Sete histórias exemplares mostram como há olhares distintos para cada situação
Matéria e entrevistas por Cibele Carvalho
Já está no ar, na página oficial do TEDx Talks no YouTube, as sete palestras do TEDxJunidiaí que aconteceram no último dia 17 de novembro, na Sala Glória Rocha, tradicional espaço cultural da cidade. O conjunto de palestras se destacou por sua capacidade de transformar perspectivas e inspirar entusiastas de TEDx ao redor do mundo com temáticas como: maternidade, meio ambiente, estratégias de vida desde o esporte até a superação, além de arte, racismo, educação e integração social.
Para os envolvidos, desde a apresentadora até os palestrantes — conhecidos como “speakers” em eventos que ocorrem em várias partes do mundo, como Estados Unidos, Inglaterra e Japão — a familiaridade com os tópicos é notável. Contudo, o frio na barriga é uma experiência comum que acompanha a responsabilidade de pisar no emblemático tapete vermelho, marca registrada dos eventos TEDx. Essa emoção, misturada com a expectativa de compartilhar ideias poderosas, torna o evento ainda mais significativo e impactante tanto para os participantes quanto para a audiência, abrindo espaço para novas visões e aprendizagens.
Mônica Cereser, psiquiatra e escritora, trouxe à tona discussões sobre saúde mental e autoconhecimento, começando sua fala com uma frase reconfortante: “Ser mãe não vem com manual.” Ela explorou os desafios e as armadilhas da superproteção, destacando que muitas vezes a linguagem negativa não é eficaz. “Quando você fala, ‘não pode subir no sofá’, a criança só ouve que pode subir no sofá”, sugeriu, propondo uma comunicação mais positiva, construtiva e de empatia, olhando para a criança interior, respeitando-a e compreendendo o comportamento das crianças.
Hildon Vital de Melo, conhecido como Camaleão Albino, vestia seu característico tapa-olho e utilizou seus 15 minutos para levar a audiência em uma jornada filosófica pelas ideias de Platão, com ênfase no conceito do “mito da caverna”. Ele explorou as “cavernas” internas de cada um e o processo contínuo de sair delas, numa reflexão que combinou filosofia e experiência pessoal. “O ‘mito da caverna’ é um convite para as pessoas reconhecerem e superarem suas próprias limitações e percepções errôneas,” explicou ele.
Camaleão compartilhou que sente imenso prazer em olhar a vida de forma filosófica e compartilhar essas reflexões, especialmente quando há a oportunidade de alcançar as crianças, que ele considera o público mais exigente, curioso, e que garante um futuro mais reflexivo. “A experiência de estar no palco do TEDx Jundiaí foi incrível, principalmente pela liberdade de falar o que eu queria compartilhar,” concluiu.
Outra presença marcante foi a de Marcel de Souza, ex-jogador de basquete que agora atua na área da medicina. Com seus 1 metro e 99 centímetros, Marcel não apenas impôs uma forte presença no palco devido à sua altura, mas também chamou atenção ao pedir que as luzes fossem acesas, a fim de se conectar melhor com o público. Durante sua apresentação, ele compartilhou como as lições aprendidas na quadra influenciaram sua abordagem na vida profissional. “No esporte, se você percebe que o adversário está com medo, você avança com determinação. Essa visão estratégica é algo que levo comigo para o consultório médico”, afirmou. Marcel também destacou: “Intimido qualquer desafio que o paciente possa vir a ter. O segredo é trabalhar mais na prevenção do que no tratamento.”
Ele explicou como a habilidade de rapidamente analisar situações e tomar decisões eficazes no esporte agora orienta sua prática médica, ajudando-o a enfrentar desafios com confiança e perspicácia. “Minha mudança do esporte para a medicina mostra como as habilidades que aprendi em uma área podem enriquecer e trazer novidades para a outra, oferecendo uma visão única e diferente”.
O rapper niLL foi o primeiro a chegar ao teatro. Ainda nos bastidores, uma hora antes do evento, 17h45, estava eufórico com o convite. “Quando a Tainan me convidou para participar, pensei: uau, que responsabilidade. Um evento dessa magnitude deixa qualquer um empolgado”. Fundador do coletivo Sound Food Gang, ele discutiu a velocidade das informações e o impacto nos sonhadores.
Ansioso para falar com a plateia, optou por não fazer silêncio ou qualquer tipo de concentração. Conversou com todos da produção, mostrando o quanto o TEDx planta sonhos até nos mais experientes. “Ainda na adolescência, com o convite de uma professora do ensino médio, comecei a colocar em letras musicais minhas angústias, alegrias e sonhos. O tempo é curto para expressar todos os meus olhares sobre a vida, mas é importante roteirizar para não perder o raciocínio”.
Mesmo com a chuva na região de Jundiaí na noite do TEDx e a temperatura marcando aproximadamente 15°C, para niLL, ao sair do palco, parecia 30°C. O rosto todo molhado de suor era prova de que participar do TEDx provoca também uma sensação de euforia. “Enquanto houver alguém que sonha e alimenta esses sonhos — o que sei ser verdade para muitos aqui presentes — ainda dá para plantar muitas sementes”, afirmou, incentivando a continuidade dos sonhos em meio às pressões digitais.
A mesma sensação que levou Nill à sudorese foi sentida por Wagner Nacarato, diretor do Teatro Polytheama, ao sair do palco. “Sinto-me leve, renovado e ainda mais determinado a pisar em palcos onde quero voltar. Para mim, foi como uma ‘sessão de descarrego'”, brincou Nacarato ao compartilhar sua jornada pessoal de superação após quatro cirurgias recentes. “Essa semana foi a mais dolorida de toda a minha vida. Uma batalha contra o câncer traz uma exaustão que remédio nenhum é capaz de aliviar. Mas o teatro sim, ele me alimenta e me dá vontade de viver”, disse ele, mostrando que o palco do TEDx é também um espaço de cura e renovação.
Nacarato compartilhou que nunca imaginaria assumir a diretoria de um dos principais centros culturais da cidade – o Teatro Polytheama – que já foi considerado o maior teatro do Estado de São Paulo na década de 1920 e hoje tem capacidade para receber até 1.236 pessoas em cada peça. “Assim como não imaginei assumir o cargo que hoje tenho, a medicina também não imaginou o quanto a arte me salva, mesmo com células cancerígenas malignas espalhadas em todo o meu corpo.”
Jorge Bellix, engenheiro agrônomo e presidente da Associação Mata Ciliar, emocionou o público ao narrar experiências devastadoras de destruição ambiental. “Ver uma onça morrer queimada abraçada com seus filhotes é um olhar que marca a alma da gente”, disse ele, sublinhando a importância de ações urgentes para proteger nosso planeta.
Valéria de Paula trouxe para o palco a discussão sobre a valorização da cultura negra e a necessidade de desafiar sistemas de privilégio. “Eu não tento convencer os brancos de nada. Se há racismo, é um problema deles”, declarou Valéria, enfatizando a importância da auto-reconstrução e da resistência cultural.
A paixão por trás do TEDxJundiaí
Tainan Franco, co-organizadora, produtora e apresentadora do evento, destacou-se pelo papel fundamental na condução de todo o processo. Com atenção aos detalhes e à organização — desde o planejamento e preparação até a curadoria dos conteúdos, logística e marketing — Tainan revelou que estava acordada há mais de trinta horas para garantir que tudo corresse bem. “Não importa o cansaço; o que realmente importa é a pessoa que está ali. É essencial capturar o olhar de cada história, pois cada uma delas impacta profundamente”, afirmou, mostrando seu comprometimento com cada narrativa apresentada.
Rafael Testa, organizador do TEDxJundiaí, enquanto apreciava as palestras, manteve-se atento à parte técnica, cuidando da iluminação, som e slides. Com seus pensamentos organizados, já vislumbra como será o evento em 2025. “A comunidade é a parte principal de todo o espetáculo. Vou planejar como integrar ainda mais o público na próxima edição”. Embora o TEDxJundiaí 2025 ainda não tenha data definida, entre tantos olhares de apreciação e paixão, Rafael garante que haverá novidades para surpreender e encantar ainda mais.
Sobre Cibele: Jornalista apaixonada por contar histórias. Especializada em transformar narrativas de pessoas, eventos e empresas em conteúdo envolvente e inspirador. Minha missão é usar o poder do jornalismo para dar voz a histórias que motivam e conectam pessoas.